Vida. Eu queria sempre falar de vida! Porque eu gosto mesmo é de respirar fundo, deliciando cada molécula do ar; de sorrir, viajar, beijar, brincar, caminhar, cantar… Vida!
Mas hoje, fui obrigada a lembrar da frase que ronda minha cabeça desde que me tornei mãe, e que sempre era falada pela Liliane, uma mãe atípica que nos deixou hoje: “Eu queria ter o direito de morrer”.
É que quando a maternidade acontece, nossa meta de vida divide o espaço com a missão de fazer dos nossos filhos pessoas o mais autônomas possível. Não podemos nem pensar em morrer.
O direito de morrer, de certa forma, anda junto com nos tornarmos menos importantes para eles, intencionalmente, objetivamente. Inclui a tarefa de deixá-los aptos a agir sem nossa presença. Portanto, sermos menos necessárias na vida prática.
Quem não tem filhos ou, mais ainda, quem não tem filhos atípicos, talvez não entenda. É que sabemos que ninguém fará pelos nossos filhos o que nós (mesmo que compulsoriamente) estamos dispostos a fazer enquanto estamos por aqui, neste mundo. Ainda que sejamos rodeados de amor e de pessoas de bem.
Nossa missão vai para além da vida.
Nossa luta é que um dia as políticas públicas sejam tão justas que a nossa existência não precise ser tão fundamentais para eles.
Nossa luta é que um dia a sociedade seja tão empática e igualitária que a gente finalmente possa viver sem pensar em não ter o direito de morrer.
Nossa luta é que um dia a humanidade seja tão desprovida de preconceitos que a
a gente não precise ter medo de sair do lado deles.
Porque, por enquanto, somos essenciais; não podemos sequer desviar o olhar.
Morrer? Nem pensar. Não posso!